sexta-feira, 3 de março de 2017

Capitão Fantástico

Data de lançamento: Dezembro de 2016 (Brasil)
Direção: Matt Ross
Roteiro: Matt Ross
Elenco: Viggo Mortensen, Frank Langella, George Mackay
Gênero: Drama
Duração: 118 minutos
País:EUA
Idioma:Inglês
Distribuidor:Universal
Sinopse: Em meio à floresta e isolado da sociedade, um devoto pai dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior - um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai e traz à tona tudo o que ele os ensinou.
Link para o trailer legendado: Capitão Fantástico

Indie, hippie, hipster, mistura de Na Natureza Selvagem com Pequena Miss Sunshine, crítica ao modo de vida hippie tardio etc, são os rótulos com os quais vários artigos etiquetaram o filme Capitão Fantástico. O problema é que o filme é exatamente sobre a urgência em nos livrarmos dos rótulos e das fórmulas estabelecidas pela sociedade para nos moldar e (con)formar. A questão central apresentada no filme é a possibilidade de não se inserir na sociedade com a qual não compactuamos com os seus valores, filosofia e modo de vida. A discussão envolve a criação dos filhos exatamente porque é o elemento que torna tudo mais complexo. Um casal que renega o convívio social e vai viver isolado, não enfrentaria grandes dilemas além da falta de conforto ou dificuldades práticas no cotidiano, mas quando a formação de seis crianças é questionada, tudo fica mais difícil. É justamente aí que o diretor acerta ao mostrar que todas as escolhas tem os seus prós e contras e que cabe aos adultos envolvidos atentarem para o sucesso ou fracasso de suas decisões, inclusive aqueles que vivem sob o efeito manada e seguem a multidão sem discussão.

A história é centrada na figura do pai, não apenas por ser a base de todas as decisões envolvidas no modo de vida da família, mas porque é ele que passa por um processo gradual de reflexão e questionamento sobre as suas escolhas. O filme tem momentos de exageros no qual o diretor pesa a mão sem necessidade, como a entrada da família excêntrica no velório, mas tem bons momentos, como a discussão sobre o livro Lolita, a surpresa das crianças pequenas ao ver tantas pessoas fora do peso e a comemoração do dia do Noam Chomsky.

No confronto com a irmã sobre a criação dos filhos, fica evidente a superioridade intelectual das crianças criadas no meio do mato, mas a questão é mais complexa ainda: por que razão o modelo socialmente aceito para educar os filhos é tão medíocre e mesmo assim considerado ideal? Ser como os outros é uma escolha ou uma imposição social? O filme não facilita a vida do espectador com receitas fáceis, o fanatismo religioso encenado pela família para escapar do policial que pergunta por que as crianças não estão na escola, é emblemático. Não mandar os filhos para escola por motivos religiosos é aceito, mas por questões ideológicas é rechaçado e pode ser, inclusive, criminalizado.

O processo de reflexão de Ben (Viggo Mortensen está maravilhoso e merecia muito ganhar o Oscar) não começa apenas quando ele sai do seu esconderijo para enfrentar o mundo exterior, a doença mental da esposa é o início de sua desconstrução porque a fuga de uma sociedade consumista, com valores tão deturpados, não foi suficiente para que ela não ficasse doente. Fica evidente que adotar um estilo de vida alternativo não significa que tudo estará sob controle e que todos os problemas serão resolvidos. O próprio problema que move a família, impedir o enterro cristão da mãe que deixou por escrito o que queria no momento da sua morte e sua vontade foi ignorada pelos próprios pais, é causado por um aspecto contraditório: quem pagou todas as despesas do tratamento dela foi o pai e por essa razão ele teve o poder de decidir o que fazer no enterro da filha. Apesar de injusto, não é difícil compreender o ressentimento dos pais que acabaram de perder a única filha e que atribuem a sua morte ao marido maluco. Embora equivocados, eles são amorosos, elemento muito bem demonstrado na cena do velório quando a avó beija os netos que sequer tinha conhecido com amor, ternura e, evidentemente, muita dor.

Outra situação da qual Ben não escapa, mesmo criando os filhos de forma tão diferenciada, é a revolta típica do filho pré-adolescente que direciona toda a sua dor para culpar o pai por todos os infortúnios que sofreram. A decisão de não transformar o avô em um vilão foi muito acertada porque as decisões soam melhor como escolhas e não como consequências de pressões externas ou falta de opção. E o mais importante: em todas as situações, o que prevalece é o amor e essa é a mensagem essencial do filme. Não importa como você decide criar os seus filhos ou quem está certo ou errado no modelo de formação, o importante é o amor, o respeito e a liberdade. Aqui está o elemento mais transgressor do filme, mostrar que mesmo quando é necessário ceder e compactuar com algumas convenções sociais, você pode escolher o caminho da liberdade. Para quem se sente seguro e feliz apenas reproduzindo o status quo deve soar como um soco no estômago...

Minha crítica profissional preferida sobre o filme: Cinema em Cena



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