quinta-feira, 1 de março de 2018

A Forma da Água

Data de lançamento: 2018 (Brasil)
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro e Vanessa Taylor
Elenco: Sally Hawkins, Michael Shannon, Octavia Spencer, Richard Jenkins, Michael Stuhlbarg, David Hewlett e Doug Jones.
Gênero: Drama
Duração: 2h e 10 minutos
País: EUA
Idioma: Inglês
Distribuidor: Fox
Sinopse: Durante a década de 1960, em meio aos grandes conflitos políticos e as grandes transformações sociais ocorridas nos Estados Unidos, Elisa, zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, conhece e se afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa no local.
Link para o trailer legendado:A Forma da Água

Guillermo del Toro é um diretor talentoso e quase uma unanimidade em relação ao seu brilhantismo. Eu não gosto muito do trabalho dele, a crueldade extrema me parece demasiada em alguns momentos e, especificamente neste filme, me pareceu repetitiva. Isso não significa que o filme não seja maravilhoso, ele é mais do que isso, é absolutamente necessário nos dias de hoje. Porque Del Toro não busca o caminho mais fácil para discutir o problema da maldade humana. Ele não precisa pavimentar o terreno para criar uma justificativa para o mal, ele está lá naquele homem comum, pai de família e trabalhador exemplar.

O diretor usa os contos de fadas como uma metáfora que está longe de ser didática ou singela, a perspectiva é cruel mesmo, o vilão é aquele que emerge dos seus piores pesadelos, das histórias mais inacreditáveis para ganhar vida e surgir em carne e osso na sua vida, no seu trabalho ou na vizinhança. Assim, a história que é contada inicialmente como um conto de fadas moderno, torna-se sombria, violenta, erótica e cruel.
Elisa poderia ser apenas uma pessoa disposta a fazer o que é certo e libertar a estranha criatura que foi capturada por Strickland e aprisionada em uma base secreta, mas ela vai além: ela ama e deseja aquele estranho ser e está disposta a enfrentar os inimigos e confrontar os amigos para salvar o objeto do seu amor. A ousadia dela não está apenas na coragem para assumir o seu amor que causa tanto estranhamento, mas está também na forma como ela assume o seu desejo e o concretiza sem que o sapo precise virar um príncipe primeiro. A atuação de Sally Hawkins é tão fantástica quanto o espetáculo visual de Del Toro e os personagens secundários não estão lá apenas para garantir que a história da protagonista seja contada. Pelo contrário, cada um deles tem a sua própria história de preconceito para contar e as atuações são igualmente brilhantes. A melancolia e desejo de acertar do vizinho e amigo solitário
Curiosamente, Del Toro utiliza metáforas e sutilezas para destilar a podridão da nossa sociedade, enquanto não economiza para retratar a violência e a crueldade. Não achei o vilão interessante, embora reconheça que a escolha por mostrar o seu contexto familiar como pai dedicado e marido atencioso tenha sido uma excelente sacada. Não vi muita diferença entre o terrível capitão Vidal de O Labirinto do Fauno e o cruel Strickland, a sensação de "hum, eu já vi isso antes" me acompanhou durante todo o filme. A lentidão na segunda parte do filme pavimentando a construção do desfecho, também me pareceu exagerada, mas talvez tenha sido necessária para permitir a aproximação de Elisa com o homem-anfíbio.
Entretanto, nada disso afeta a beleza e importância do filme. O filme é uma poesia sobre os invisíveis, desajustados, fracassados (segundo o conceito de sucesso da sociedade capitalista, é claro) e qualquer um que apresente uma aparência ou comportamento fora dos padrões. E para falar sobre isso, Del Toro revela toda a sua genialidade e é imbatível...
Críticas profissionais sobre o filme que eu mais gostei: Cinema em Cena e Plano Crítico