terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A Chegada (Arrival)

Data de lançamento: Novembro de 2016
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Eric Heisserer
Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker
Gênero: Ficção científica
Duração: 1h e 56 min
País: EUA
Idioma: Inglês
Distribuidor: Sony Pictures
Link para o trailer: A Chegada
Sinopse: Quando seres interplanetários deixam marcas na Terra, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista especialista no assunto, é procurada por militares para traduzir os sinais e desvendar se os alienígenas representam uma ameaça ou não. No entanto, a resposta para todas as perguntas e mistérios pode ameaçar a vida de Louise e a existência de toda a humanidade.

Vou começar o blog palpitando sobre o filme A Chegada (do canadense Denis Villeneuve), porque de todos os filmes da safra do Oscar 2017, foi o que mais me surpreendeu. Não que o Oscar defina os nossos interesses, afinal o filme nem teve indicações para as categorias mais importantes, incluindo a grande injustiça com Amy Adams que merecia a indicação de melhor atriz, mas vou comentar os filmes que concorreram ao Oscar neste ano primeiro.

A Chegada é o tipo de filme que você tem certeza que sabe o que vai encontrar ao assistir, mas ele faz você rodopiar e ficar sem chão. Você tem certeza absoluta do que está vendo, acredita que compreendeu o roteiro e sabe o que aconteceu, mas no meio do filme já não sabe de nada... Sente medo e curiosidade ao ver os alienígenas, quer que o filme mostre os detalhes dos seres extraterrestres, mas ao mesmo tempo agradece por não ter que ver. Entretanto, por mais que o filme seja um espetáculo visual belíssimo, é a estrutura da narrativa e suas surpresas que nos conquistam.

O filme já começa mostrando a dolorosa perda da Dra. Louise Banks e sua aparente apatia com o que está acontecendo ao seu redor, mesmo que seja a surpreendente chegada de naves alienígenas, seguida de sua convocação para ajudar os militares na tradução e compreensão da linguagem dos alienígenas. A partir daí vemos o trabalho de Louise em campo, como ela se relaciona com as dificuldades imensas em compreender um idioma que não possui parâmetro algum e sua habilidade (ou falta dela) para se relacionar com as pessoas que a cercam. A deterioração física e mental de Louise é visível e ao mesmo tempo angustiante, atribuímos a sua fragilidade ao seu passado e as pressões do presente, mas não é exatamente assim que a história se apresenta. A ideia de que mudamos a nossa estrutura mental ao aprender um novo idioma, absorvendo a forma como a outra cultura percebe o mundo e lida com ele, nos faz temer o que virá a seguir. Quanto mais Louise se aprofunda na linguagem dos Heptapods (como os extraterrestres são chamados), mais ela é inundada com lembranças/visões da sua vida familiar com todos os momentos de amor, conflitos e felicidade que terminam em uma dor tão imensurável que justifica totalmente a apatia dela diante da vida.

A sensibilidade do filme ao misturar a tragédia pessoal da linguista Louise Banks e a iminente catástrofe para a humanidade com a chegada dos extraterrestres, nos faz suspirar e temer o passado e o futuro que se desenha. Tudo isso até compreendermos que não existe passado, presente e futuro, o que sabemos não pode ser contido na nossa linearidade da vida.

O filme foi baseado no conto de Ted Chiang, "História da sua vida" que faz parte do livro "História da sua vida e outros contos" e não sosseguei enquanto não comprei o livro e li o conto. A narrativa é dolorosa, Louise escreve para a filha enquanto explica a conexão entre a chegada dos extraterrestres e a existência da filha. Em uma passagem do texto, ela afirma que o telefonema do exército sobre os extraterrestres foi o segundo telefonema mais importante da vida dela, o primeiro, é claro, foi sobre a filha. Isso acontece logo nas primeiras páginas e é um grande trunfo do texto: não existe suspense desnecessário, o autor entrega a tragédia logo no início e seguimos a protagonista testemunhando a sua dor e interessados em seu destino. O texto é uma delícia e, estranhamente, o filme completa o texto e o texto completa o filme. É possível compreender um sem o outro, mas as respostas que faltam em cada um foram complementadas pelo meio utilizado para contar a história. O texto revela elementos que não estão no filme e vice-versa.

A Chegada é um filme que não nos faz pensar apenas na história que foi contada e nas implicações do seu desfecho, mas também em como seríamos afetados se estivéssemos no mesmo contexto da protagonista ou mesmo na nossa percepção temporal das nossas próprias vidas. É um filme instigante e que nos faz refletir durante um bom tempo. Ao final de tudo, você se pergunta: que escolha eu faria?

Minhas críticas profissionais preferidas sobre o filme: Plano Crítico (com spoilers) e Cinema em Cena.